quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Vivi até os oitenta mas deveria ter parado nos cinquenta

Viu a vida passar diante dos olhos
Os corpos diante da palma da mão
Viajou com quem pôde mais longe
Vive com saudade no coração

Caminha todas as tardes até a pracinha
Para alimentar os pombinhos dali
Nunca comeu carne de paca
Quanto mais carne de javali

Trabalhou quarenta anos num lugar horrível
Onde não conseguia fazer amigos
Onde as pessoas não se importam com o outro
E só olham para seus umbigos

Suspira a carne seca que janta
Sentado sozinho à mesa
É rei do seu próprio mundo
Mas sem o sorriso de princesa

Hoje o pobre velho espera a morte
Na janela da sala olhando o João-de-barro
Começou a fumar muito cedo
Pois botava muita fé no cigarro

Agora, sem amigos ou parentes
Ele assiste aos filmes da adolescência
A lágrima corre o rosto enrugado
E de mãos atadas pede clemência

"Ó, meu deus, me leva por favor
Já não tenho a quem fazer sorrir
As pessoas são muito complicadas
E minha vontade é de partir"

Deus atendeu à sua prece
E o levou para morar no seu ninho
Parece mentira, mas até deus o tratava mal
Nem no céu conseguiu ter carinho

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

a morte do poeta

andei até o fundo do mar
capotei com todos meus carros
queimei meus livros do vinícius
e até os do manoel de barros

não tomei banho para ir ao trabalho
não me alimentei como deveria
a tristeza tem batido sempre à porta
e as lágrimas caem em demasia

não escovei os dentes para ir dormir
quebrei meus ossos andando de bicicleta
por desânimo resolvi parar por aqui
e decretar, por fim, a morte do poeta

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

E eu não troco meus livros nem minha coleção de discos por você, então exclamou

Te dei a chave e deixei a porta livre
Você chegou e engoliu a chave
Antes, chorou ouvindo Joie de Vivre
E a bola do gol bateu na trave
Com a cabeça deitada na cama
Pensou no que ainda não esqueceu
Aquela doce voz não mais te chama
E cê lembra, até, do que não aconteceu
O sol já dá bom dia às bolsas dos olhos
E faz frio mesmo com o calor
"Os meus ferinos abrolhos
Nasceram do teu amor"

sábado, 3 de janeiro de 2015

Um rap anti-homofobia à procura do beat perfeito

Quando cê liga a TV querendo se entreter
Não percebe que homossexuais são só pessoas como você?
Que sentem dor no peito quando são magoados,
Que são abandonados pelos seus namorados,
Que quando adoecem também ficam internados
E quando tão sem grana, vão ao caixa pegar extratos.
Por que diminuir um ser-humano achando ser melhor?
Na terra onde os home controla todo mundo é o pior.
Todos temos dois olhos para ver a beleza do mundo
Mas com esse preconceito a tristeza vem em tamanho jumbo.
Duas garotas podem, sim, trocar beijos no meio da rua
Dois garotos podem, sim, andar de mãos dadas
Se o amor nos impedir de ter nossa pele nua
Será que não é melhor viver num conto de fadas?
O pressuposto vindo da bíblia mata pessoas pelas ruas
Espanca corações que buscam, apenas, um ponto de paz.
Alguns preferem bem-passado, outros, as carnes cruas
E todo essa idiotice não os deixam viver mais.
O Datena mostra toda tarde que gays morrem pelos becos do Brasil
O Bonner põe na tela que na Rússia não há tranquilidade.
Eu só queria acreditar que o mundo todo não é hostil
E ver esses casais demonstrando afeto nas praças da cidade.
Nas palavras enjoadas do Malafaia cê não deve acreditar
Nem em nenhum padre que julgue seu amor como pecado.
Você é uma pessoa livre e não importa a quem amar
O futuro não deve ter a mania de querer imitar o passado.
O batom nos lábios pede beijo na boca
O cabelo tá grande e fica saindo da touca.
Pinto os olhos com o lápis do estojo
Só pra dizer que sua homofobia me dá nojo.