quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Every town has an Elm Street


          Passando pela rua da igreja num dia desses indo trabalhar, notei que o portão de um daqueles sobrados agora é branco. O bar, que antes era outra igreja, virou um double de sobrados triplex. A dona Genoeva, vó do Vovô e da Camila, já morreu faz um tempão, mas sempre lembro dela quando passo por essa rua (todos os dias). O cunhado da dona Zila morreu e seu beagle de estimação morreu. Morreram também aqueles dois cães que latiam sempre quando eu caminhava à loteria da minha mãe. O Sargento tava trampando de segurança num mercado ali de Santa. Acho que ele parou de ir ao bar do Gaúcho. Aposto que tretaram. O Gaúcho tretava com todo mundo. Na esquina, onde tinha aquele matagal em que a piazadinha fazia guerra de mamona, hoje tem quatro outros sobrados. Num deles, quem mora é a dona Olga, que costurava minhas calças quando era criança e que morava na frente do sobrado do portão branco.
          No outro lado da esquina, quem morava (e mora) lá é o Jardel. Quando a gente era criança, a gente jogava bola juntos. Depois ele cresceu e virou um bosta. Vai ver ele sempre foi um bosta e eu era pequeno demais pra entender. Ele era vizinho do Tuca. O Tuca é gago e era legal pra caramba. Uma vez ele apareceu com o Zeca Camargo na TV, correndo pelo Parque Barigui. Lembro que fiquei muito feliz com aquilo e que tinha dado muita risada. Em frente à sua casa é onde tem aqueles motoqueiros. Sempre que passo ali, tem, até hoje, um carro vermelho com adesivos no Lino's Bar e do Mão-de-Ferro. Não sei que carro que é, não dou a mínima pra carro. Sei que nunca fui com a cara daqueles caras e nem com esses adesivos (mas a menina que mora em cima é bem bonita).
          Seguindo a rua, tem o sobrado azul (sobrado de boy, tem até campo de futebol) e do lado tem a casa da dona Elena. Dona Elena era vó do 'Migué' e eu nem sei se o nome dela se escreve assim mesmo. Quando seu marido, vulgo 'Seu João' morreu, eu senti muita tristeza. Ver ele fraco daquele jeito na cama não me fez bem. Nem sei do que ele morreu, mas sei que eu gostava bastante do Migué. Ele foi pro Japão e voltou. Agora mora numa cidade de Minas Gerais, eu acho, e, se voltasse, a gente não teria nada em comum...
          Do lado, moram, em duas casas, o Hugo e o Tião. O Tião é um dos meus tios mais próximos. Uma vez ele bateu o carro indo pro Jd. Itália e cabotou um monte. Isso foi em 2004 e eu fiquei desesperado. O Hugo é meu primo que trampa comigo e tá na banda dos amigos. O pai dele é meu chefe. O pai dele tava atrás de mim me dando tchau enquanto escrevia isso. O Hugo morava no sobrado cujo o portão agora é branco. Na esquina de cima, é o bar do tio Pedrinho. Tio Pedrinho está morrendo. Não vou sentir a sua falta, nunca fomos muito próximos. Sempre que eu passava na rua, ele nenhuma vez me cumprimentou, acho que nem sabe que sou sobrinho dele. Ele se parece muito com meu pai mas tem a estatura das minhas tias. Coitado do tio Pedrinho. Vai morrer logo depois de seus outros sobrinhos - esses sim, próximos - terem sido assassinados por engano. Descansa bem, tio!
          Descendo a rua, moram o Pangelo, Caio, Dener e mais algumas tias, primos e um tio. Dificilmente - quase nunca - meus parentes me visitam ou visitam meus pais. Eu nem me importo, nunca liguei pra isso mesmo. Tô nem aí. Depois que você atravessa a rua pela última vez antes da estrada, não se tem ninguém de importante. Ninguém que tenha sido meu amigo ou que eu tenho história pra lembrar.
          Meu coração não tá mais nessa rua. Ele tá longe. Ele vai voltar... Caralho, eu tô morrendo, mesmo, de saudade...

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