terça-feira, 27 de julho de 2010

Post #180º

Ângulo raso.













Como eu odeio matemática.

Post #179

Eu ando me sentindo mais apático que o normal. Os meus dias têm sido todos iguais, isso não é nada ruim, a não ser pelo fato de sempre existir a noite do dia. À tarde eu me sinto uma pessoa normal e feliz, cercada de pessoas interessantes. Aí quando eu chego em casa, o que eu tenho? Eu mesmo. Não quero tornar a me humilhar aqui, me colocando sob xingamentos sem cabimento, só acho um saco ter que conviver com meu Brasfoot toda noite. Agora eu tenho ocupação; os estudos. Eu faço alguns exercícios e pronto, minha noite está meio salva, quando volto ao computador para tentar interagir... Boom! Já não consigo mais fazer. O meu desânimo anda tão avassalador que eu já não consigo conversar tanto com as pessoas que, acredito, não sentem a mesma coisa que eu. Puta que pariu, que noite horrível!




Já não sabia o que era rima.
Como então expressaria o amar?
Como poderia se sentir para cima.
Se ele já não sabia rimar?

Já não sabia o que era rima.
Pensou então em se lançar ao mar.
Ali não tinha a matéria prima.
E ao paralelismo resolveu apelar.

No ato, então, saiu uma rima.
O que não fez ele se animar.
Ainda lhe faltava a proteína.
Que vinha junto com o amar.

Já não sabia o que era rima.
Sabia sim se apaixonar.
Por qualquer coisa que o fascina.
Que os seus olhos fazia chorar.

Já não sabia o que era rima.
E cansou de ali ainda estar.
A morrer, a vida lhe ensina.
Parou. Respirou. Resolveu pular.

Já não sabia o que era rima.
Não conseguiu se levantar.
E os olhos daquela doce menina.
Nunca mais vão o machucar.



Brigado, A.

Post #178

Oi.

Eu queria pedir desculpas de novo por andar fora disso aqui como tantas outras vezes já aconteceu. Eu não sinto vontade de escrever nada e ando bem desanimado com tudo - e a novidade? As coisas parecem não terem muito sentido, já que eu não sei o que quero da vida. Logo, eu não faço sentido. Andei estudando esses dias e vi que existem vários erros de português naquele meu #152. Isso me deixou tão triste que eu fiquei muito de cara comigo mesmo. Sei lá, não tô com vontade de corrigir essa porra toda. Foda-se.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Post #177

Eu queria ter de escrever que o vento havia mudado.
De certa forma só a rotina me abandonou.
E quando me dei conta que ainda estava aqui parado.
No fim das contas, em mim, ainda nada mudou.

Não mais vivo a escuridão que eram os meus dias.
Agora são um brilho cintilante feito purpurina.
À todas as coisas que me banharam em águas tão frias.
Digo que de mudança, em mim, só mesmo a rotina.

Por dentro das nuvens eu viajo quatro ou cinco anos.
Cada olhar que eu cruzo me acende uma nova vida.
Em cada olho desses me vem também os planos.
Que tive em minha cabeça numa tal rotina esquecida.

Torno-me surdo partindo dessa noite quente.
As razões ainda não fechei nessa minha mão
Na loteria do destino, apostei o que se sente.
Nas roletas com números, feri meu coração.

Ora, esse papo já me encheu toda a paciência.
Linhas não abrangem toda a minha tristeza.
Cansei de escrever sobre toda essa carência.
E de ler essas linhas grandes, dá-me uma moleza...

Ainda me arranho com coisas tão pequeninas.
Ao ver que o fruto fica no galho mais alto que tem.
Fico dentro do meu casulo protegido pelas cortinas.
E sozinho no meu canto ainda me acho um ninguém.

Post #176

Oi.

Eu queria, primeiramente, pedir desculpas por causa da minha ausência. Eu iria arranjar uma desculpa como, sei lá, dizer que o meu tempo anda corrido demais e por isso não posto mais nisso aqui. Mas seria mentira. Eu tenho tempo livre para postar aqui, o que acontece é que não me vem uma luz divina que me dê coragem para escrever novamente. Nunca mais fiz nada no teclado, nunca mais peguei numa caneta e isso me deixa meio triste. Era a única coisa que eu gostava mesmo de fazer e, de repente - não mais que de repente - eu simplesmente parei. Sei lá. Eu não tenho mais ideias do que fazer, sabe? Eu não me sinto adaptado (?), não vejo motivo e, desse jeito, o #152 vai ficar por aquilo mesmo. Talvez vocês nunca saibam o que aconteceu com a Bárbara, Glenn, Doyle e quem mais iria aparecer na história. Ai, ai... Eu sou tão incopetente.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Post #175

Noel Rosa - Vejo Amanhecer

"Amanhece e anoitece
Sem parar o meu tormento
Por saber que quem me esquece
Não me sai do pensamento
Já não durmo, já não sonho
De pensar fugiu-me a paz
No passado tão risonho
Que não volta nunca mais"



Post #174

Oi. Eu senti vontade de escrever agora. Há uma semana eu tenho me sentido estranho, como se houvesse alguma coisa me perturbando, alguém me fazendo mal, sei lá... Eu tenho ficado triste sem motivo, de novo. Tudo isso tinha dado uma certa pausa e eu estava adorando. Mas, de repente - não mais que de repente - tudo começou a me machucar de novo. Eu fico me perguntando que "tudo" é esse que não me faz bem, já que eu não sei o motivo de eu me sentir assim. Isso só alimenta a visão de que, o meu maior problema, sou eu mesmo.
Eu sempre tive uma visão meio única de ver as coisas no mundo, sabe? Sempre que me imaginava numa situação legal, dando tudo certo, sendo tudo perfeito, eu simplesmente não iria conseguir fazer isso ser, de fato, legal. Eu evitava ver tudo pelo lado bom, justamente com o medo de que isso voltasse a acontecer. Dá na mesma eu ver as coisas pelo lado ruim ou lado bom. Vai dar tudo errado pra mim mesmo. Eu, vendo qualquer coisa pelo lado positivo, fazia dar errado. Isso deve ser algum fruto da minha árvore bipolar ou alguma arma que o TOC usa contra mim. Eu não sei porque perco tempo escrevendo sobre isso. Hoje, agora, eu acho que só sei conversar comigo mesmo, escrevendo aqui.
Hoje uma menina que eu não conheço me ofereceu um abraço. Eu não sei se ter recusado foi o certo... Fui pensar nisso depois, só. Eu estava tão arrasado que não enxergava nada mais. Tava pouco me fodendo mesmo. Quanta ironia, né? Ontem mesmo, no #173, escrevi que preciso de abraços e um dia depois recuso um. Talvez por eu não conhecê-la, ou... ah, foda-se.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Post #173

E depois de tanto tempo.
Vim dizer que não melhorei.
Isso eu vou contar rimando.
Para vocês tá tudo okay?

O que antes me machucava.
Hoje não importa mais.
Isso é parte do lado bom.
Ver a vida ao tanto faz.

Ainda tenho os meus dias.
Que a tristeza está em alta.
Esses dias predominam.
E um abraço me faz falta.

Ainda não tenho meu bem querer.
Pois continuo sendo eu.
Há dias que não fala comigo.
Para o meu bem, me esqueceu.

Não quero mais escrever.
Pois eu me acho limitado.
O Artur quer ser o Glenn.
E de Bárbara ser namorado.

Caso gostem do que escrevo.
Não precisa comigo brigar.
Pois o "Post #152".
Eu ainda vou continuar.

Post #172 (#152 Pt. XIX)

A semana estava começando novamente e eu estava para pegar férias do trabalho. Isso iria acontecer na próxima quarta feira. Fazia pouca coisa junto de pessoas que eu não queria por perto, vivia de pés atrás com elogios vindos daqueles rostos aparentemente tão falsos. Eu não aguentava mais aquele lugar e queria sair de lá a todo momento. Mas, se eu não ficasse lá, o que eu iria fazer? Eu não sei fazer mais nada na vida além de escrever e desenhar. Pareço criança de oito anos, a única diferença é que eu não sei o que quero. Eu cursei Letras na faculdade e acabei desenhando num jornal. Desenhando! Eu não queria ser professor, porque não tinha jeito. Não queria ser jornalista por puro capricho. Pelo menos os meus desenhos refletiam positivamente e eu ganhava meu troco, mas não era exatamente o que eu queria - nem eu sabia o que queria. Chegando em casa naquela tarde exausto e cheio de tanta gente fingida, deitei-me e dormi até Bárbara chegar. Eu já tinha esquecido de Artur, não queria mais lembrar do seu rosto. Estava tudo bem, mas Bárbara chegou em casa meio assustada, parecia mesmo estar com muito medo de alguma coisa:

- Aconteceu algo, querida?
- Não. Por quê?
- Você me parece estranha. Está branca feito um fantasma. Pode me contar, tem alguma coisa acontecendo?
- Juro que não - insegura - está tudo certo comigo. Juro mesmo!

Qualquer idiota que olhasse para o rosto dela naquele momento, conseguiria perceber que algo tinha acontecido. Seus olhos conversavam comigo e me diziam que alguma coisa ela estava guardando para si. Eu só não entendia a causa, mas eu sentia que aquele cara estava metido no meio dessa história. Eu não deveria me preocupar tanto com aquilo, já que eu confiava muito nela. Sabia que não iria acontecer nada de ruim... Mas eu estava errado.

continua...


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Post #171 (#152 Pt. XVIII)

Bárbara não sabia cozinhar. Ela, assim como eu, era um desastre na cozinha. A gente comia fora quase todo dia, porque nem ela aguentava comer sua comida. Eu, sendo pior que ela, nem me atrevia a chegar perto do fogão. Quando comíamos em casa, eram sempre porcarias, como pizza. Quem tinha sempre a ideia de comprar essas coisas era ela. Detesto comida chinesa. Eu era obrigado a fritar um ovo quando ela pedia esse tipo de coisa. Gorda!
Numa noite dessas, estava trovejando muito e o vento fazia muitas folhas colarem em minha janela. Era sexta feira. A chuva era tão intensa que Doyle se encondia em baixo das pernas de Bá - me sentia tão dezessete chamando ela assim. Ela teve uma ideia tão brilhante que senti vontade de beijá-la. Vendo eu e ela, juntos, assistindo filme e comendo porcaria todo fim de semana, olhava para o Doyle e ficava se perguntando o que ele pensava. Olhava para aquela coisa de pelos, gorda e preta com manchas amarelas e perguntou:

- Por que o Doyle não tem uma gatinha?
- Nunca tentei apresentá-lo para uma. Não sei, eu me sentia tão sozinho que ia morrer de ciúmes vendo ele com um amorzinho assim.
- Você poderia muito bem tentar fazer isso. Agora que você me tem ao lado, quem morre de ciúmes é ele. O que acha?
- Eu não sei. Ele parece feliz, brinca com a lã, arranha minha perna, ronrona e come bem. Acho que não é a hora dele arranjar uma mocinha com pelos.
- Você é muito idiota, viu?!

Depois dessa maneira maravilhosa de referir-se à mim, olhamos os dois para o Doyle lambendo o braço dela enquanto trovejava forte lá fora. Lembram dos filmes ruins? Ainda estavam em casa. Passamos mais aquela noite fazendo a mesma coisa, até que dormimos ali mesmo, novamente. Sábado a gente não ia ter o que fazer. Era folga de Bárbara e não planejamos nada, resolvemos andar pelo centro, já que ela estava precisando de sapatos novos. Aproveitei o embalo e resolvi fazer o mesmo. Eu teria comprado o sapato, se não tivesse antes comprado um disco do Velvet Underground, importado e de prensagem original. O preço de um sapato. Posso andar descalço agora.
Enquanto íamos até a loja que ela queria, encontramos o tal amigo dela na rua. Era um rapaz bem arrumado, bonito, tinha barba e cara de que fazia qualquer moça cair aos seus pés. Cumprimentei-o sem muita emoção enquanto éramos apresentados por ela:

- Artur, esse é o Glenn. Glenn, Artur...
- Como vai?
- Muito bem e você, Glenn?
- Vou bem... Vou bem.
- Ótimo. Como foi que você conheceu a Babi?
- Babi...? - já com sangue nos olhos.
- É, bem... - meio confusa, parecia transtornada - a gente precisa ir agora. Até mais, Artur!
- Tudo bem - rindo ironicamente - até mais, Babi. Tchau aí, cara!

Alguma coisa me invadiu na hora. Eu não gostei do olhar que siau dos seus olhos em direção aos olhos dela quando falou "Babi". Senti bastante ciúme na hora, senti vontade de quebrar os dentes brancos que aquele cara tem. Olhos azuis, pff... O que as pessoas tanto gostam nisso? Esquecemos dele, esfriei a cabeça e fomos atrás de seus sapatos. Eu adorava o fato dela não fazer cerimônia para comprar. Pegava o que lhe agradava e não ligava para marcas. Com o dinheiro que lhe sobrou, acabamos comprando chocolates e pegando mais um filme. Eu precisava de um video game...

continua...

sábado, 10 de julho de 2010

Post #170 (#152 Pt.XVII)

O domingo foi bastante preguiçoso. Deu na TV que a chuva não iria parar por algum tempo, começando por domingo. Ficamos o dia em baixo das cobertas ouvindo uns discos dela. A gente dividia os domingos em quatro partes: cada domingo do mês, faziamos alguma coisa diferente. Em um ouviamos meus discos, em outro os discos dela, em outro a gente descia para a rua e em outro a gente dançava em casa até nossos pés começarem a inchar. Como eu adorava o que ela escutava, nunca reclamava de ficar com ela o dia todos ouvindo aquele monte de coisas. Aquele domingo foi longo. Mais longo que o de costume, eu estava até cansado daquele domingo. Domingos sempre foram a minha fraqueza maior, como já contei para vocês.
Na segunda, como não precisava trabalhar, acordei um pouco mais tarde. Eram 9:00h quando notei que Bárbara não havia ido trabalhar:

- Isso são horas?
- Está chovendo muito. Liguei para S. Fachada e disse que estava doente. Ele acreditou.

Eu não tinha acordado muito legal naquele dia. Eu estava triste, bastante desanimado. Toda vez que eu focava meu pensamento em fatos não muito alegres do passado, isso me acontecia. Eu havia sonhado com um amigo que eu tive. Conheci ele adolescente já, mais ou menos com quinze anos. Em pouco, nos tornamos bem amigos, apesar de não nos vermos muitas vezes. A gente sofria da mesma coisa e só nós sabiamos disso. A gente gostava de não contar isso para os outros. Eu sabia o que me deixava triste e só eu sabia o que deixava ele triste. A gente se entendia bastante porque o motivo era o mesmo. Só que, ah... Meu destino sempre gostou de brincar comigo. Eu era o bichinho de estimação e meu destino era a Felícia. Num dia, conhecemos uma terceira pessoa, por quem ele acabou se apaixonando. Ele meio que esqueceu de mim e passava mais tempo com ela. Quando tornava a falar comigo, era para falar dela. Um dia, ironicamente e, juro, até hoje não sei o motivo, eles acabaram por desmanchar tudo. Acho que não quero mais escrever sobre isso, dói demais esse meu peito quando lembro de tal fato. Escrever sobre ainda me dá tapa na cara. O que importa é que eu perdi ele e nunca mais consegui recuperar. Ainda hoje, poucas vezes, vejo-o na rua... Ele nem deve mais lembrar-se de mim.

continua...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Post #169 (#152 Pt. XVI)

Sexta feira, um dia antes do meu aniversário, Bárbara conversava com S. Fachada para ver o que iria ser feito para mim. S. Fachada ficou triste em ver que teria compromisso no dia, não pôde fazer nada e ficou triste ao saber que eu novamente iria ficar sem uma comemoração. Bárbara ficou desolada, ela queria só me agradar e me dar o que eu nunca tive na vida. Aquela sexta feira foi marcada por uma noticia muito boa: Eu não precisava ir ao trabalho segunda feira. Isso só deixou minha sexta feira, meu último dia de vinte e oito anos, melhor. Como era o dia em que Bárbara saía mais cedo do trabalho, fui buscá-la no sebo para que pudéssemos passear um pouco. Comemos fora e depois alugamos filmes ruins para ficar assistindo a noite toda. Pareciamos duas crianças tirando o audio e redublando aqueles filmes. Dávamos gargalhadas estridentes e Doyle reclamava sempre de nós. Cortamos a madrugada fazendo isso, até que dormimos sem perceber.
Chegou o sábado. Dia 13/07; meu aniversário. O dia amanheceu normal, como qualquer outro e Bárbara não me deu parabéns. Não reclamei. Fiquei imaginando se ela tinha esquecido disso. Seu expediente começava ao meio dia, então ela fez seu café e estava na sua vez de usar a vitrola. Não a perturbei e resolvi ir ao quarto para escrever alguma coisa. Quando abri a porta do quarto, ouvi a voz de Bárbara cochichando algo. Fui de fininho ver o que estava acontecendo na sala, eis que me deparo com ela conversando com o Doyle, fazendo gestos, como se estivesse impondo condições ou dando ordem ao gato. Aquilo me assustou, mas me alegrou ao mesmo tempo. Morri de rir vendo ela fazer aquilo, mais ainda de ver ela tentando se explicar. Peguei meu café e ela desceu para ir ao trabalho. Não aguentava mais escrever, fiquei na sala junto de Doyle para ouvir, pela primeira vez, meu disco do Cartola. Juro para vocês, caros leitores, que quase chorei ao ouvir "Acontece" com aquela voz maravilhosa que só o mestre Cartola tinha. Doyle, quando gostava do que ouvia, dormia em meus braços, coisa que se repitiu mais uma vez. Eu tinha um gato sambista.
A tarde estava se acabando e não recebi nenhum telefonema me parabenizando. Minha desilusão cresceu consideravelmente. Bárbara chegou feliz, me deu um beijo, mas não comentou nada sobre o dia. Pegou o Doyle no colo e praticamente me expulsou de casa:

- Sai! Eu e o Doyle temos muito para fazer.
- O que é?
- Sai logo, poxa!

Peguei um livro de Bukowski e saí, já que estava sendo expulso de minha propria casa pelos amores de minha vida. Eu desci e comecei a me perguntar o que ela estava aprontando. Disse para eu voltar em cerca de meia hora. Minha curiosidade era notavel! Eu estava ansioso, eu odiava surpresas ou que escondessem as coisas de mim. O que será que ela teria para fazer no meu apartamento que eu não pudesse saber? Quando deu o horario, voltei para casa. Abri a porta lentamente, e as luzes estavam apagadas. Acendi e não pude acreditar no que via. Bárbara com Doyle nos braços, atrás de uma mesinha com um bolinho em cima e na parede havia um papel crepom escrito "Parabéns, querido!" de uma forma muito feia, improvisada, como se tivesse sido feito na hora - e tinha mesmo.

- Surpresa, amor! - sorrindo, de maneira encantadora.
- Ah, eu não posso acreditar nisso! Você fez isso tudo sozinha?
- Negativo. Sem o Doyle nada disso teria sido feito. Ele ajudou a escolher a cor do papel e o sabor do bolo. Espero que tenha gostado, a gente deu um duro danado para fazer tudo isso para ti!
- Você é inacreditavel! - lacremejando - Eu não acredito que tenha feito isso por mim.
- Na verdade, na verdade, eu iria fazer algo maior com a ajuda de Fachada, mas ele teve um imprevisto, então eu tive que fazer tudo isso sozinha.
- Miau! - sim, ele miou na hora. Ele era mais esperto que eu.
- Digo, com a ajuda dessa bola de pelos!

Eu não me importava com os outros anos que eu teria pela frente. Nenhuma festa de aniversário que eu futuramente pudesse ganhar, teria um valor sentimental tão grande quanto essa. Nunca imaginei que alguém iria realmente fazer isso por mim. Minha admiração por essa moça de cabelos lindos e sardas que pintavam seu rosto só sabia crescer. Eu amava Bárbara cada dia mais e ela sabia disso. Já não conseguia viver sem ela ao meu lado. O bolo não foi ela quem fez, comemos boa parte dele e depois fomos ver mais alguns filmes ruins. Eu amava beijar aquela testa toda noite antes de pegar no sono...

continua...

Post #168 (#152 Pt. XV)

Passei a tarde conversando com o Doyle, pensando se aquele rapaz tinha voltado ao sebo para "comprar" mais alguma coisa. Desenhei qualquer coisa para o trabalho e resolvi relaxar. Deixei meus chinelos no chão e apoiei meus pés sobre o sofá, enquanto comia Doritos com Doyle aos braços. Eu olhava para o teto e só sabia pensar naquele maldito cara. Eu não me via tão preocupado assim desde... desde... nem lembro desde quando. Doyle me entendia, ele olhava para minha cara e sabia bem o que eu queria dizer com isso. No fim daquela tarde, resolvi espairecer. Saí de casa e resolvi dar uma volta. Peguei um livro qualquer, escolhido aleatoriamente e desci à rua. Fiquei feliz em ver que iria passar algum tempo com Dostoiévski.
Quando cheguei em casa, pouco tempo depois, Bárbara ainda não havia chego em casa. Estava tudo intacto e eu já comecei a ficar mais pensativo. Tirei o volume da barba e esperei à mesa ela chegar para conversarmos. Quando chegou, chegou com o mesmo olhar do dia anterior, fui logo perguntando:

- Encontrou aquele cara novamente?
- Sim. Ele voltou ao sebo mas, dessa vez, não queria comprar nada.
- O que ele queria?
- Ah, como éramos muito amigos, queria só saber como eu estava, aonde estava morando, o que estava fazendo da vida, se estava namorando...
- E você...?
- Respondi. Disse que minha vida estava melhor do que nunca e que havia encontrado finalmente a parte que me faltava. Perguntou seu nome, o que gostava de fazer e eu respondi.
- Disse o quê?
- Ah, o que eu diria para qualquer um que me perguntasse de você. Disse que você adorava escrever e desenhava para um jornal da cidade, até que ele disse "Ora, então ele é o Glenn daqueles quadrinhos? Diga que adoro seus diálogos!". Só.
- Fico grato em saber que alguém realmente vê aquilo tudo - sorrindo.
- Você... Não está com ciumes, né, meu bem?
- Confesso para você que... Ah, esquece. Não há de ser nada.

Enquanto dizia isso, foi me contando do seu dia. Disse que estava bastante contente de ter encontrado seu velho amigo de adolescência. Depois, me mostrou uns passos de dança que gostaria que eu decorasse. Disse que estava cansada de dançar valsa para o Doyle, resolveu aprender tango. Ai, que guria maravilhosa! Me ensinava tanta coisa e eu gostava dela cada dia mais.

Post #167 (#152 Pt. XIV)

Chegamos em casa exaustos, prontos para outro domingo de sol. Eu sabia que meu aniversario estava chegando mas não imaginava que iriam preparar uma festa para mim. Eu não sabia como reagir a uma festa em que eu fosse a peça chave. A última vez que me fizeram uma festa assim, eu tinha mais ou menos cinco anos. Meus pais já deveriam estar cansados de ficar se preocupando com velas que fossem apagadas ou com convidados que fossem alimentados.
No meio daquela semana, deveria ser terça feira, Bárbara chegou meio tensa do trabalho. Ela estava mais quieta que o normal e a beleza dos seus olhos havia desaparecido. Ela parecia insegura e fez muito caso para contar o que havia acontecido. Quando resolveu me contar, disse-me que o menino que amava ela no colegial - que não era mais menino - havia aparecido aquela tarde no sebo. Me contou que ele a reconheceu sem dúvidas e que ficou muito sem graça de ter encontrado-a. Na hora eu senti uma coisa ruim dentro de mim, não sei dizer bem o que era, mas é como se tivesse explodido um caminhão inteiro de explosivos em minha cabeça. Eu não sabia o que aquilo queria dizer, mas não foi nada agradavel ter sentido aquilo. Tentei acalmá-la dizendo qualquer coisa que ela gostasse de ouvir, fiz um chá para ela e botei seu disco favorito do Seaweed na vitrola, deitei sua cabeça no meu colo e fiquei brincando com seu cabelo até ela pegar no sono.
Quando o dia amanheceu, ela parecia ter esquecido o que havia acontecido na tarde anterior. Me cumprimentou pulando em meus braços e me dando um grande beijo no rosto, molhando toda minha camisa limpa de café. Depois de morrer de rir ao me ver todo sujo, arrumou-se para sair e foi de caminhada para o trabalho. Antes de sair, ainda me chamou de "panaca". Eu fiquei em casa até a hora do almoço tentando pensar em alguma coisa legal para o trabalho. Eu só conseguia pensar aonde aquele rapaz estava, o que estava fazendo na cidade e por que diabos teve que achar Bárbara novamente. Posso estar sendo meio inseguro e idiota, mas aquele olhar que estava estampado no rosto da Bárbara depois de me contar desse tal rapaz não me parecia algo bom. Eu não queria pensar em algo negativo, mas eu não conseguia fugir dessa minha mania...

continua...

sábado, 3 de julho de 2010

Post #166 (#152 Pt. XIII)

Uma noite antes da tal festa da filha de S. Fachada, a gente havia conversado sobre algumas coisas que envolviam nosso futuro. Não pensamos em nada além de morarmos juntos para ver o que sairia dali. Me senti bem aliviado ao ver que ela não queria separar-se de mim - tão cedo, pelo menos. Naquela noite assistimos The Notebook, o chato é que nós dois já haviamos decorado cada fala dos personagens. Isso a gente tinha em comum, nosso filme favorito era o mesmo. Acabamos dormindo na sala mesmo, abraçados, eu ainda não tinha me acostumado com alguém gostando de mim com aquela intensidade. Era tudo o que eu sempre quis. Quando acordei, percebi que ao invés de Bárbara, tinha Doyle nos meus braços, fiquei me perguntando o motivo dela ter feito aquilo. Quando me dei conta, ela estava passando nosso café olhando para mim deitado:

- Você com o Doyle nos braços ficou parecendo um bebê com ursinho.
- Como você é sem graça. Por que fez isso?
- Porque você é lindo!

Falo sério. Meu dia não poderia ter começado melhor que isso. Como a festa era só à noite, eu não tinha o que fazer no trabalho e ela estava de folga, resolvemos andar um pouco no centro. Fomos até a praça central e ficamos lá vendo as pessoas passearem com suas caras de que têm muitos problemas e que ninguém se importa com eles. Foi uma bela manhã de inverno, não havia uma única nuvem no céu para estragar aquele azul. Acabamos comprando uns sorvetes e alguns discos que ela queria. Ela gostava mais de CD's do que de vinis. Como ela trabalhava em sebo, ela tinha algumas artimanhas de como pegar os discos que ela gostava. Maldita! Não quis pegar os discos que eu pedi.
Passamos a tarde em casa nos entupindo de televisão até a hora de irmos até a tal festa. Acho que nunca me arrumei tão bem quanto aquele sábado. Eu iria ser apresentado como namorado de Bárbara, apesar de já conhecer S. Fachada do sebo. Fomos de ônibus, como a gente não tinha carro. O caminho é longo e o lugar era longe demais. Chegamos atrasados, porém, a tempo de vermos a filha de Fachada entrar com aquele vestido de um bilhão. Eu nunca havia sido convidado para esse tipo de festividade. A festa foi bem chata - novidade? - eu fiquei o tempo todo sentado, já que não gosto de mostrar meus dotes de dançarino ao público. Só via Bárbara conversando com S. Fachada toda hora:

- Semana que vem, é aniversario do Glenn! Ele não sabe disso, mas eu quero fazer uma festinha para ele. Os pais dele nunca o fizeram por alguma motivo meio idiota, quero vê-lo feliz em comemorar seu 29º inverno.
- E tu queres que eu faça o que, menina?
- Você poderia convencer o pessoal do sebo para irem lá na nossa casa. Eu tentaria dar um jeito de falar com os amigos do trabalho dele. Nada muito grande quanto a festa de sua filha.
- Ah, esta festa de Maria está uma maravilha que só! Isso aí de seu parceiro é surpresa?
- Sim! Ele não pode saber disso. Ele está olhando para nós, mas nem deve desconfiar do que estamos conversando.

Ela veio caminhando até a minha mesa:

- Quer ir embora, querido?
- Você quer?
- Por mim tanto faz. Festas enjoam fácil.
- Talvez seja por isso que nunca comemoraram o meu aniversario.

Saímos de lá um pouco cansados. Ela se despediu de S. Fachada e de sua filha, saímos do salão e fomos pegar o ônibus de volta. Já era o último, por alguns minutos não teriamos que pedir carona, coisa que eu sempre odiei fazer na vida. Ao entrar no ônibus, me bateu um enorme remorso de ter bebido tanto refrigerante. Quase mijei dentro do ônibus mesmo. Aquela noite foi bem diferente para mim e eu devo tudo isso à Bárbara.

continua...

Post #165 (#152 Pt. XII)

O nosso primeiro dia morando juntos foi maravilhoso. Eu estava com um medo enorme que nossas vidas se transformassem em cruzes para carregarmos sem querer, como se vê por aí com tanto casal. Eu me via disposto a levar isso à diante pra sempre, só tinha medo de que para ela, alguma coisa mudasse. Apesar dela me dizer coisas legais a todo momento e me fazer cafuné quando eu pedia, eu sentia insegurança ao tocar no assunto "nosso futuro". Talvez fosse mais uma atitude previsivel do meu pessimismo, coisa que eu já deveria ter esquecido há tempos.
A minha vida, coincidentemente depois da vinda de Bárbara para minha casa, só melhorou. Eu até recebi um aumento no meu trabalho e uma proposta de desenhar para uma revista bastante conhecida no país. Acabei recusando, porque eu era meio com o pé atrás com essas coisas de televisão em papel. Prefiro não saber nada do que ver as coisas com a visão deturpada que as revistas me passavam. O fato de eu ter recusado e continuar ganhando meu sustento mínimo, não tiraram o fato de minha vida estar indo muito bem. Aprendi até a conversar com as pessoas do meu trabalho e aos poucos fui fazendo amigos. Estranho, depois de três anos convivendo com elas eu começo a trocar um cumprimento diario. Eu sempre as via como pessoas estranhas, julgava-os pelas suas caras que chegavam todo dia. Ouvi-os cochichando, achando estranho essa minha mudança brusca de humor.
No trabalho de Bárbara também. A sua simpatia contagiante trazia admiradores de livros. Como era a melhor funcionaria, era como se fosse a preferida do chefe, conhecido como "Seu Fachada". Seu Fachada, quando saía, deixava o comando em mãos de Bárbara, ela era a única em que ele depositava sua total confiança. E pensar que trabalhar em um sebo nunca havia passado pela cabeça dela. Diferente de mim, Bárbara já tinha amigos no trabalho. Todos a cumprimentavam e a adoravam. É impressionante como ela poderia ter se apaixonado por mim, alguém tão diferente dela.
Certo dia no trabalho, Seu Fachada convidou Bárbara para a festa de sua criança de quinze anos. Era uma menina que acabara de conhecer o amor e estava apaixonado por um menino de sua classe. Bárbara sempre gostou de festas de aniversario, principalmente as de quinze anos que eram coisas grandes e sempre chovia de gente falsa. Aceitou o convite sem pensar duas vezes. Ao chegar em casa, esperou a minha chegada para que pudesse me contar que iriamos a uma festa. Cheguei tarde naquele dia, veio logo me perguntando:

- Por onde você esteve?
- Fui ao sebo onde trabalha agora...
- Mas você sabe que eu saio antes das sete horas.
- Não fui por você, fui, finalmente, comprar aquele disco do Cartola!
- Então tudo bem. Tenho uma coisa para te contar.
- Conte-me!
- S. Fachada nos convidou para uma festa de aniversario de sua filha e eu disse que a gente iria.. Tudo bem para você, querido?
- Oh, claro... Por que não? Quando vai ser?
- Dia seis de julho. Exatamente uma semana antes do seu aniversario.
- Juro que até tinha esquecido do meu aniversario.
- Está cansado do trabalho? Sente-me que vou lhe preparar uma sopa que minha mãe me ensinou a fazer.
- É por isso que eu gosto de você. Você lê a minha mente sempre.
- Pare de me mimar, seu besta!

Com a minha vida indo bem do jeito que estava, não vi motivos para recusar aquele convite.
Fiquei esperando o dia da festa mais feliz ainda, afinal, finalmente havia conseguido comprar o disco do Cartola. Quando o assunto era música, me sentia avô de Bárbara. Gostava de sambas dos anos 30, enquanto ela gostava de umas bandas dos anos 90. Ela não se importava quando eu ouvia Cyro Monteiro, assim como eu não me importava com ela ouvindo Soulside na mesma vitrola. Eu gostava das coisas que ela ouvia... Aliás, eu gostava de tudo nela.

continua...